15 de set. de 2011

O tempo não cura...

 
Imagem: tela de Francine Van Hove


sou assim, não tenho cura; as lembranças sempre me atravessam e me dilaceram.

faz tanto tempo e eu nunca me esqueci...

foi na última hora de uma madrugada de chuva e vento; eu o segurava forte junto ao peito e meu coração, já sem rumo, chorava tão alto, que ecoava naquele outro corpo, onde nada mais pulsava, onde só o silêncio imperava.

não tinha mais forças, não sabia como lutar contra a determinação da ausência e me deixei ali ficar, estática, com a minha perda tatuada na alma.

não sei quem o tirou dali, quem o levou de mim, deixando este eterno vazio entre os meus braços.

só sei que, desde então, eu nunca mais sorri por dentro.


(mas minto que sou feliz e minto tanto e com tanta veracidade, que até eu mesma, de vez em quando, consigo acreditar nessa tal felicidade, inventada só da boca pra fora).