5 de set. de 2011

Tempestade

 

alta madrugada e ela insone, aflita, rodeada de barracos se equilibrando sobre outros barracos, numa pinguela de abismo a muitos metros do chão, ignora o que se passa por trás da cortina de água...
lá embaixo, um bêbado também se equilibra nos passos, abraçado à garrafa vazia; havia bebido de tudo, para se lembrar e se esquecer, e agora se curva para vomitar a mistura.

do outro lado da rua, uma mulher, usando um vestido molhado, que mal lhe cobre o corpo de carnes fartas, fecha os olhos e deseja que a noite logo se faça dia, para que possa juntar suas coxas e gozar, enfim, o seu merecido repouso.

aqui e acolá acende-se uma luz, outra se apaga. bocas se procuram, pernas e braços se enlaçam, corpos se fundem. ecoam sons e gemidos de prazer e um ou outro lamento da desilusão do amor não realizado, da frustração do impotente, da sua desistência do sexo.

mas ela está alheia a tudo e a todos; com os olhos fixos vigia, reza a Ave Maria e implora que a tempestade não leve a montanha que está à sua frente e, com ela, toda aquela vida adjacente.